Contexto
Um desafio particular brasileiro são as construções autogeridas, pois mais de 87% da população, ou 177 milhões de pessoas, moram em casas ou “casas de vila ou em condomínio” (IBGE, 2024). Sua importância na pegada de CO2 da construção brasileira pode ser estimada pelo fato de que mais de 64% do cimento brasileiro é vendido em saco, usado em grande parte em pequenas obras com diversos níveis de autogestão (SNIC, 2023). Essas moradias são produzidas com pouca influência dos códigos construtivos e do arcabouço formal, sem projetos adequados, sem equipe técnica capacitada e pouco sensíveis a regulamentos urbanos e normas técnicas.
O método construtivo e a escolha de materiais na construção de uma moradia têm interferência direta na qualidade do ambiente interno e no aumento das emissões de CO2 para a atmosfera. As edificações influenciam o conforto das pessoas e o clima global. Considerando a ausência de conhecimentos técnicos e construtivos acerca da moradia autogerida e o aumento da recorrência de eventos climáticos extremos, a vulnerabilidade dos moradores e o desconforto térmico são acentuados.
O Brasil, ao assinar a “Declaração de Chaillot” junto com mais de 72 países durante o Fórum Mundial Edifícios e Clima, organizado pela UNEP em março de 2024, assumiu o compromisso de implementar políticas e estratégias regulatórias e financeiras para garantir a descarbonização dos edifícios no sentido amplo, incluindo residências unifamiliares até edifícios altos, residenciais e comerciais.
Considerando a representatividade da informalidade construtiva (por exemplo, favelas) e a necessidade de descarbonizar o setor construtivo, é necessário construir um diagnóstico apurado da intensidade de emissões de CO2 das habitações brasileiras, de modo a estabelecer uma linha de base, baseada em dados primários. Tais dados devem ser obtidos de forma padronizada, a partir de uma amostra representativa dos processos de produção, capaz de refletir a complexidade da construção civil brasileira. Uma amostra representativa permitirá também uma estimativa balizada da pegada de CO2 setorial.
Referências bibliográficas
Mensurar a emissão de CO₂ das moradias, considerando a contribuição destas para o bem-estar das pessoas, apoiar políticas públicas e promover a transição do setor privado para uma economia de baixo carbono.
Como melhorar o bem-estar das pessoas reduzindo a pegada de carbono na construção das moradias?
Este projeto fundamenta-se em um princípio central: os moradores que constroem suas moradias são agentes ativos e essenciais na transformação do território.
Em diversos contextos de vulnerabilidade urbana, a autogestão da construção representa a principal — e muitas vezes única — estratégia para acesso à moradia. Contudo, condicionada por recursos financeiros limitados, repertório técnico restrito e disponibilidade local de materiais, essa prática frequentemente resulta em habitações com elevados custos socioeconômicos (decorrentes de erros recorrentes e ineficiências construtivas), impacto ambiental significativo e baixos níveis de bem-estar habitacional, manifestados em insegurança estrutural, desastre térmico, déficit de iluminação natural, umidade excessiva, entre outros fatores.
Diante desse cenário, o projeto propõe romper esse ciclo de precariedade por meio de uma abordagem integrada. Inicialmente, busca compreender os critérios e lógicas que orientam as decisões dos moradores no processo de autoconstrução — especialmente no que tange à escolha de materiais, tecnologias e priorização entre custo, durabilidade e conforto. Em seguida, realiza-se uma avaliação multidimensional do bem-estar nas moradias existentes, considerando não apenas a provisão do abrigo, mas também indicadores de qualidade ambiental interna e sustentabilidade.
Com base nesses diagnósticos, o projeto busca propor ferramentas técnicas, diretrizes para políticas públicas e soluções inovadoras, co-projetadas com as comunidades. O resultado almejado é a promoção de um novo paradigma construtivo: mais sustentável, com menor emissão de carbono, maior conforto ambiental e dignidade social.
Para atingirmos esses objetivos, foram planejadas as seguintes etapas.
A primeira etapa do projeto constituiu-se na concepção e análise do tema, terminando no desenho da etapa exploratória na comunidade São Remo, cidade de São Paulo. Após essa etapa, foram desenvolvidos um modelo de diagnóstico integrado, bem como manuais para replicabilidade em escala nacional.
Garantindo a replicabilidade, será possível desenvolver rotas de mitigação com soluções que promovam moradias sustentáveis, resilientes, equitativas e escaláveis, mitigando a pegada de carbono e melhorando a qualidade de vida das pessoas.
Como primeira etapa, o projeto visou propor um método quantitativo e replicável para estimar a pegada de CO₂ das construções das moradias, a influência dessas moradias no bem-estar das pessoas e mapear o processo decisório da sua construção.
Para isso, foi realizado um projeto piloto na comunidade São Remo, zona oeste de São Paulo, de forma a desenvolver um método de coleta de dados e interação com a comunidade, possibilitando a replicabilidade do projeto em outros locais do Brasil.
O estudo combinou metodologias quantitativas e qualitativas, integrando:
• Entrevistas aprofundadas com moradores;
• Coleta de dados ambientais em 39 moradias por meio de sensores de temperatura, umidade, CO₂ e compostos orgânicos voláteis (VOC)
• Mapeamento da geometria urbana com tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging);
• Estimativa do carbono incorporado nos materiais de construção utilizados.
Esses fatores, combinados, impactam diretamente o bem-estar dos moradores e evidenciam a vulnerabilidade climática das moradias autogeridas, mesmo em contextos urbanos densos.
Além disso, o projeto validou um método integrado replicável, capaz de:
Mapear decisões construtivas a partir da perspectiva do morador;
Quantificar emissões de carbono incorporado em diferentes tipologias de construção informal;
Relacionar características físicas das moradias com indicadores de conforto ambiental e saúde.
A etapa exploratória contou com a seguinte estrutura para sua realização:
GT Comunidades: Estabelecer diretrizes de tecnologia de coleta de dados e liderar a execução dos grupos de trabalho nas jornadas de aprendizagem no território.
Modelo de trabalho – GTs
Valter Frigieri - ABCP
Vanderley John - Poli-USP
Coordenação do projeto: Rubiane Antunes - hubIC
Gestora de interações: Letícia Macellari - hubIC
Gestão operacional:
Eliana Taniguti - hubIC
Ercília Hirota - UEL
Débora Piacente - hubIC
Maria Alice Gonzales - InovaUSP
Mayara Regina Munaro - UTFPR
Líder: José Baravelli - FAUUSP
Fernanda Mota Lima - FAUUSP
Letícia Macellari – hubIC
Letícia Silva Paz - FAUUSP
Débora Piacente - hubIC
Maria Alice Gonzales - InovaUSP
Paulo Nunes - FAUUSP
Rubiane Antunes - hubIC
Stella Souza - FAUUSP
Líder: Ercília Hirota - UEL
Camila Viana - IGc-USP
Elza Nakakura - consultora ABCP
Erika Mota - ABCP
Eliana Taniguti - hubIC
Lucas Melchiori - FAUUSP
Mayara Regina Munaro - UFTPR
Paulo Nunes – FAUUSP
Líder: Mariana Giannotti - CEM-USP
Bruno Maciel dos Santos- Poli-USP
Diego Tomasiello - Poli-USP
Fernando Gomes - CEM-USP
German Freiberg - SACI
Suellen Takada - Poli-USP
Líder: Alberto Hernandez -Poli-USP
Emeli Guarda - UFMS
Gustavo Rehder - Poli-USP
Letícia Cabrera - UEL
Mayara Regina Munaro - UTFPR
Líder: Ana Cristina Guimarães -UFPE
Adriana Sbicca - UFPR
Cláudia Pires - Rede ODS
Letícia Cabrera - UEL
Mirian Raquel do Nascimento Fernandes - UFPR
Natascha Vital - Aza Vital Arq. Social
Rubiane Antunes - hubIC
Vera Rita de Mello Ferreira – Consultora ad hoc
Equipe Rede More
Valter Frigieri - ABCP
Vanderley John - Poli-USP
Gerente de Projeto
Rubiane Antunes - hubIC
Eliana Taniguti - hubIC
Ercília Hirota - UEL
Erika Mota – ABCP
Débora Piacente - hubIC
Maria Alice Gonzales - InovaUSP
Mayara Regina Munaro - UTFPR
Regina Ribeiro - hubIC
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