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Como a indústria de cimento e concreto pode neutralizar as emissões de carbono até 2050? A McKinsey recebeu especialistas no Fórum Econômico Mundial de 2023 em Davos para apresentar suas percepções. 

Traduzido e adaptado de McKinsey & Company

Publicado originalmente em 3 de fevereiro de 2023

Escrito por Sarah Heincke, Jukka Maksimainen e Sebastian Reiker 

O ambiente da construção é responsável por cerca de quarenta por cento das emissões de gás carbônico e vinte e cinco por cento das emissões de gases do efeito estufa (1). Como parte desses valores, a produção de cimento é uma das indústrias mais poluentes, responsabilizada pelas emissões de sete por cento do gás carbônico global (2). Chegar ao equilíbrio das emissões de gás carbônico até 2050 demandará a rápida redução de carbono da indústria de cimento e concreto. Embora muitas empresas do mercado tenham se comprometido em eliminar o carbono, não há um integrante que consiga alcançar a meta sem a adesão de todo ecossistema. 

McKinsey apresentou um painel no Fórum Econômico Mundial de 2023 em Davos, Suíça, para discutir o futuro do mercado. O painel uniu partes interessadas nas “cadeias de valore”, incluindo investidores e bancos do mundo inteiro, que discutiram decisões que o mercado poderia tomar agora, em que circularidade assumiria um papel vital, e como partes interessadas dentro da “cadeia de valores” podem colaborar. 

Enquanto os membros do painel discutiam o futuro do cimento e do concreto nas “cadeias de valor”, quatro tópicos principais surgiram: a possibilidade da descarbonização no cimento e concreto; a oportunidade de criação de valor das economias circulares [reciclagem]; novas oportunidades para investimento e edifícios comerciais sustentáveis; e a colaboração será pautada na descarbonização. 

A descarbonização em cimentos e concretos é possível através de uma combinação de alavancas 

É salutar que, dadas as emissões consideráveis, a produção de cimento é uma área de interesse fundamental para os esforços de descarbonização (3). Além dos custos ambientais das emissões de dióxido de carbono, os custos monetários estão ficando maiores, por causa da tabela de preços do carbono, que pode chegar a cento e oitenta mil bilhões de euros mundialmente até 2050. Com isso, o cimento continua sendo o principal material de construção: quatro bilhões de toneladas métricas – quase cinquenta mil aviões lotados – são produzidas por ano. Precisamente, especialistas em materiais de construção na edição de 2023 do Fórum Econômico Mundial observaram a crescente demanda por materiais com menos carbono, como o “cimento verde”. 

Para responder essa demanda por materiais produzidos de maneira sustentável, produtores de cimento e concreto podem se envolver com as seguintes alavancas na descarbonização ao longo da “cadeia de valor”: 

Forno rotativo (‘kiln’) de produção de cimento

Circularidade é uma oportunidade para criação de valor 

Circularidade também surgiu como um ponto importante durante a mesa redonda. Os palestrantes apontaram que, para chegar a um ambiente de construção sustentável, materiais de cimento e concreto reciclados podem ser utilizados em novas edificações e obras, ou como módulos reutilizáveis, ou materiais que podem ser sintetizados e incorporados em novos materiais de construção. Já existem exemplos de reciclagem de cimento e concreto ao redor do mundo, incluindo os países nórdicos. Lá, empreiteiras estão construindo novas estruturas que utilizam concreto de edifícios demolidos. Levando isso adiante, até construções inteiras podem ser reutilizadas ou ressignificadas. Um prédio que era um galpão em outrora, poderia ser convertido em uma varejista, em um condomínio comercial ou residencial. A ressignificação de edifícios dessa maneira poderia atender necessidades sociais urgentes, como prover novas moradias em mercados restritos sem começar uma obra do zero. 

Embora muitas dessas tecnologias sejam relativamente novas e ainda não tenham sido distribuídas em larga escala, o interesse e ação das companhias neste campo está crescendo. Estima-se que 2,6 bilhões de toneladas métricas de emissões de gás carbônico poderiam ser evitadas ou mitigadas ao aplicar soluções circulares para cimento e concreto até 2050 (Sarah Heincke et tal). Essas economias financeira e de gás carbônico poderiam potencialmente contribuir com até cento e dez bilhões de euros em ‘EBITDA’ (earnings before interest, taxes, depreciation and amortization – os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) por ano até 2050. 

Os incentivos para a indústria ir ao encontro da circularidade são fortes, mas ‘stakeholders’ (as partes interessadas) precisarão navegar por águas turbulentas. Por exemplo, soluções circulares exigem que a indústria se adapte e desenvolva novas cadeias de suprimentos e tecnologias. E chegar à circularidade no ambiente construtivo demandará regulações auxiliares e normas para toda a indústria. 

Novas oportunidades de investimento e edifícios comerciais sustentáveis ascendem 

Há entusiasmo, exceto incerteza, em relação em como melhor investir em cadeias de valor de cimento e concreto. Hoje, o principal gargalo em desenvolver a tecnologia necessária é identificar e facilitar os projetos individuais certos. 

Quando se trata de descarbonizar o ambiente construtivo – cimento e concreto em particular – a indústria deve reconsiderar a proposta de mobilizar o capital e se afastar de grandes fundos de transição sustentáveis, que são insuficientes em larga escala e não podem ser facilmente definidos. Em vez disso, investidores deveriam adotar uma proposta de projeto econômico, que considera a cadeia de valores como um todo, desenvolvendo novas estratégias de como melhorar a movimentação de capital através disso. Investimentos em pequenas ‘start-ups’ (iniciativas) especializadas vão acelerar o desenvolvimento da tecnologia necessária para criar a próxima geração de materiais de construção sustentáveis. Estes investimentos não deveriam focar em empresas cotadas publicamente (na bolsa de valores); investidores deveriam seguir projeto por projeto, até que o método certo emergisse com credibilidade e tornasse a justificar uma escala maior do fundo de transição. Mobilizar tal capital seria difícil, mas essencial para acelerar essas soluções. 

Considerando que a descarbonização das cadeias de valores de cimento e concreto não serão imediatas, a indústria deve continuar investindo em tecnologias sustentáveis já existentes. Por exemplo, investir no mercado atual de materiais e resíduos recicláveis vai preparar esses espaços quando a economia circular do concreto emergir. 

Colaboração é excepcional 

As cadeias de valor de cimento e concreto impactam a sociedade, conectando fornecedores de materiais de um lado e proprietários e usuários (clientes) do outro – com seis ou sete grupos adicionais (por exemplo, arquitetos e ‘designers’ (projetistas), empreiteiras, coordenadores da cadeia de suprimentos, e muitos outros) entre eles. 

Para que a jornada rumo à circularidade tenha sucesso, toda a cadeia de valor precisa de coordenação. Caso contrário, a indústria não se moverá rápido o suficiente para desenvolver o setor e criar um ambiente atrativo onde empresários possam investir. Os membros do painel mencionaram que introduzir materiais reciclados na cadeia de valor de cimento necessitaria de colaboração entre pelo menos quinze segmentos. Em decorrência de muitos desses grupos, em geral, não interagir muito entre eles, poderia ser desafiador estabelecer uma cadeia de suprimentos circular; por exemplo, um segmento no final da cadeia de valor pode precisar trazer resíduos de materiais do final da linha de produção de volta ao começo. 

Além da coordenação de muitas partes, a colaboração entre indústrias encara outros desafios. Por exemplo, os palestrantes identificaram que atrasos causados pelas mudanças vagarosas no código de obras podem ser um obstáculo para tecnologias de descarbonização. Enquanto essas normas oferecem proteções essenciais, se reguladores não forem introduzidos no debate, eles estarão consistentemente atrás das inovações dos materiais de construção. Ainda, etapas dentro da cadeia de valor, como reciclagem de resíduos, acontecem frequentemente em âmbitos locais. Entretanto, para que essas tecnologias funcionem, elas necessitam soluções verdadeiramente globais, criadas através de múltiplas partes interessadas (‘stakeholders’). Então, parcerias devem expandir geografias para efetivamente avançar inovações e identificar oportunidades para aplicá-las.

Para superar esses obstáculos, é essencial desenvolver escopos e mecanismos para a ação coletiva unir essas partes interessadas. Felizmente, esforços incipientes já existem – por exemplo, o Conselho de Ambiente Construtivo com Emissões Neutras (‘Net Zero’), instaurado pela McKinsey (7). Parcerias assim permitirão intercolaboração na cadeia de valores, incorporando cada aspecto da economia circular, de modo que quando as tecnologias essenciais chegarem, nenhum modelo de negócio ficará para trás. 

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Embora o segmento esteja a todo vapor, mais ações são necessárias para construir uma cadeia de valor com emissões neutras. O debate da palestra ministrada em Davos ilustrou a grande vanguarda dos participantes através do setor para soluções que vão ao encontro de um ambiente construtivo com emissões neutras, e isso mostrou o quanto já está acontecendo na cadeia de valores. Palestras como essa e outras que o conselho ministra continuarão a fomentar debates nessa área e a unir partes interessadas (‘stakeholders’) através de indústrias para acelerar e cultivar a colaboração interindústrias.  

Sobre os autores

Sarah Heincke é consultora no escritório da McKinsey em Berlim, Jukka Maksimainen é sócio sênior no escritório de Helsinki, e Sebastian Reiter é sócio no escritório de Munique. 

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